In flames



Contando os pedaços do que uma vez havia quebrado, se perdera no caminho. Na seqüencia uma tentativa desesperada de contar as gotas de vinho que havia tomado, novamente, foi interrompido por nada mais nada menos que a manifestação de um ego maior do que sua percepção do mundo.

Na beira de um deck senta, põe os pés na água e mira no horizonte, procura por um nada, querendo achar tudo que lhe falta. Na falta de respostas se contenta com a brisa que não faz idéia de onde vem, como se isso fosse fundamental. Ao se cansar da jornada de busca por preeminência, desiste de um tudo, e pensa o quão lúdibrie é a vida, já que, como pode desistir de tudo sendo que para si não tem nada?

Mudando para outra direção, quer ver tudo novo, mas percebe que por mais novas que sejam todas as coisas, o seu eu permanece imutável. E se pergunta qual a conseqüência disso, se pergunta, mas não quer realmente saber a resposta. Então volta para o que conhece, para o que entende, volta pertinaz com todas as convicções que julga ter, mera ilusão de sua parte, mera ilusão de todas as partes.

Uma volta ao redor do mundo é pouco para saciar a vontade de percorrer, correr, de ir e de voltar, de passar, e levar consigo, de trazer de volta, de deitar na cama, de abraçar, beijar e fazer amor com os sentimentos mais revoltos.

Ao acordar em uma manhã qualquer, vai até o banheiro e lava o rosto, olha no espelho a sua frente, vê as pequenas gotas a cair do seu queixo e perplexo com o rosto que vê, não liga para os flashs, os relances de imagens que passam por sua cabeça como um filme, incrivelmente não fazendo nenhum sentido para sí, e se pergunta se essa é sua vida, ou se é a vida daquele rosto que esta refletdo no espelho.

No campo, caminhando, só sabe fazer o usual. E faz. Ao voltar com suas costas viradas para os raios dourados e alaranjados do sol que se põe, observa a grandiosidade de sua sombra, bem a sua frente, e por um segundo pensa que gostaria de ser tão grande quanto ela, tão forte quanto ela, tão imponente quanto ela, imaginando que com tudo isso seria também, por conseqüência, mais resistente aos sentimentos seus, e aos alheios. Toda essa ilusão, todo esse pensamento, todo esse desejo, acaba no momento em que pisa dentro da loja, na loja ele só vai comprar uma água como qualquer outro que tem sede.

Acha a chuva objeto divino, evento de magnitude olímpica. Mas ao olhar em volta, só vê incompreensão. Olhares arredios, entende tudo isso como uma certa fome. Uma fome que só pode ser entendida por alguns, alguns poucos que não saem na chuva, mas que saem de mãos dadas com a chuva, vão até ali, um café de esquina apenas para conversar um pouco.

Todo ser tenta durante sua vida fazer algo com o que esta à sua volta. Alguns tentam até mudar ou ajudar o mundo em que vivem, outros querem é destruí-lo, no entanto ninguém consegue, ou quer saber de tentar entender a sí próprio, ou tentar mudar a sí próprio, tentar ser alguma coisa, para sí, para os outros e para o mundo, e aqueles que tentam, enlouquecem.

Bem vindo ao nosso mundo.

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